sexta-feira, agosto 20, 2010

O Dono do Bar






Hoje é quinta

E eu bebo em um bar de quinta

Pela quinta vez essa semana.



Aí lembrei da primeira namorada

Que chorava por nada.

Depois da segunda

Que chorava de tão vagabunda.

Depois da terceira

Que chorava por qualquer besteira,

Igualzinho a primeira.



Agora acabo de pedir a quinta dose

De um Whisky barato

Que ainda é melhor que um conhaque de qualidade.

O que me deixa aliviado

É ver o dono do bar

Que está muito pior do que eu,

Além de ser mais velho e mais feio

Já é seu vigésimo sexto ano nesse bar.

Eu bebo aqui há pelo menos dois anos

Mas posso beber em outros lugares, embora eu não faça isso.

Nesses dois anos eu e o dono do bar tivemos somente um assunto:

Eu pergunto: - quanto.

Ele responde: - tanto.

Então eu vou embora

E ele vai recolher os resquícios da minha embriaguez

Notei que ele jamais limpou um cinzeiro

Apenas despeja os cigarros num lixo.



Voltei para casa pensando no dono do bar:

Sem um amigo, sem uma mulher, sem um motivo

E sem um rim.

Sei disso por que o bar ficou fechado por duas semanas

Devido à uma cirurgia que ele foi obrigado a fazer

Fico imaginando o que esses vinte e seis anos socado

Naquele boteco não lhes proporcionaram

Além de uma vida perdida.

Quantos não teve que carregar para casa?

Quantos não se conheceram no seu bar?

Quantas brigas?

Quantos fiados?

(alguns jamais pagos)

Quantos copos quebrados?

Quantos não teve que ouvir:

Amargurados, arrependidos,

Cansados da vida, do trabalho, da família.

Quantos clientes falecidos?

Talvez antigamente amigos.

Quantos assaltos?

Quanta paciência tem o dono do bar!

No entanto ninguém pensa nisso:

Ninguém lembra do dono do bar.