Hoje é quinta
E eu bebo em um bar de quinta
Pela quinta vez essa semana.
Aí lembrei da primeira namorada
Que chorava por nada.
Depois da segunda
Que chorava de tão vagabunda.
Depois da terceira
Que chorava por qualquer besteira,
Igualzinho a primeira.
Agora acabo de pedir a quinta dose
De um Whisky barato
Que ainda é melhor que um conhaque de qualidade.
O que me deixa aliviado
É ver o dono do bar
Que está muito pior do que eu,
Além de ser mais velho e mais feio
Já é seu vigésimo sexto ano nesse bar.
Eu bebo aqui há pelo menos dois anos
Mas posso beber em outros lugares, embora eu não faça isso.
Nesses dois anos eu e o dono do bar tivemos somente um assunto:
Eu pergunto: - quanto.
Ele responde: - tanto.
Então eu vou embora
E ele vai recolher os resquícios da minha embriaguez
Notei que ele jamais limpou um cinzeiro
Apenas despeja os cigarros num lixo.
Voltei para casa pensando no dono do bar:
Sem um amigo, sem uma mulher, sem um motivo
E sem um rim.
Sei disso por que o bar ficou fechado por duas semanas
Devido à uma cirurgia que ele foi obrigado a fazer
Fico imaginando o que esses vinte e seis anos socado
Naquele boteco não lhes proporcionaram
Além de uma vida perdida.
Quantos não teve que carregar para casa?
Quantos não se conheceram no seu bar?
Quantas brigas?
Quantos fiados?
(alguns jamais pagos)
Quantos copos quebrados?
Quantos não teve que ouvir:
Amargurados, arrependidos,
Cansados da vida, do trabalho, da família.
Quantos clientes falecidos?
Talvez antigamente amigos.
Quantos assaltos?
Quanta paciência tem o dono do bar!
No entanto ninguém pensa nisso:
Ninguém lembra do dono do bar.