quarta-feira, outubro 13, 2010

Porto Alegre

"O que não tens em mares para que eu nade, tens em bares para que eu beba e esqueça disso"

Catarros lançados ao chão
Deslizam no pavimento molhado,
Lembrando cubos de gelo
Na textura de chicletes mascados.

Preto e cinza. Suas matizes alucinantes.
Teus odores merecem destaque,
Entre fragrâncias hipnotizantes
De cigarros, carros, pedras de Crack.

Suas balas perdidas tão certeiras
Parecem que foram miradas.
Furtos de carro, casas, carteiras
É o seu cotidiano na calada.

Malabaristas oferecem sua arte por um trocado
Brotando das vielas, feito salmonelas
Artistas de rua que vivem nela

Me sinto um desterrado nessa terra de aterros.
E me sentiria assim em qualquer lugar.

Quase esqueço de sua água tratada
Rica em coliformes fecais,
De pureza mais duvidosa
que suas pesquisas eleitorais.

Seus coletivos tão lotados e caros.
Seus hospitais tão lotados e raros.

Seus carnavais são quatro quartas feiras.
Cidade vazia, lembra o êxodo bíblico
E meu sonho com a praia de Cidreira
Foi interrompido por teu fim apocalíptico.

E um triste desfecho receio
Que um dia talvez por capricho,
Morramos todos em teu seio
Tragados numa voragem de lixo.