quinta-feira, julho 08, 2010

Noturno



Era como se eu não pudesse dizer nada, como se o silêncio invadisse minha mente e bloqueasse qualquer pensamento romântico.
Era como se eu me sentisse desonesto se falasse. Como se a minha integridade valesse muito mais que belas palavras.

Travei.

E minha criatividade foi embora num belo trem a vapor que flutuava somente sobre coisas mortas.
Vi aquele rosto angustiado que implorava, gritava para viver. Vi suas pernas finas como um taco de golfe e um soldado loiro rindo e não entendendo sua língua.
Consegui fitar  a menina desfrutando dos avanços científicos, coberta de Napalm.

Voltei.

E agora olhava aquela bela negra, sentia que me pertencia, sentia que de alguma forma ela era tudo pra mim e o passado era apenas livros velhos, meros registros. E agora o que interessava era apreciar o belo para que a verdade não me matasse. Era importantíssimo naquele momento que eu abstraísse tudo o que passara e nem pensasse em especular o devir. Porém, era necessário lembrar que ela se apaixonara por mim e não por esse idiota que ela quer me tornar. E também que ela continua tão bela quanto o dia em que a conheci. Tudo isso era verdade, tenho prova amanhã. Não sei, talvez devesse escrever para ela o que sinto, mas posso falar. Certamente que posso. Quando voltei a fitar seus olhos eles já estavam fechados. Dormira sem que pudesse saber de tudo. Fiquei acariciando sua pele macia e glabra por alguns instantes. Inutilmente, pois ela dormia feito uma egípcia chapada.

Nessa hora a insônia chega e sempre me da algumas idéias brilhantes, mas ninguém pode me ouvir, o mundo dorme nessa hora, quando o mundo acorda eu já não lembro dessas idéias, não se aplicam ao dia, fazem sentido somente a noite.
Ao dia, espero a noite.

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