Me encontro num boteco
no centro de Esteio, acabo de comer um pastel feito na hora.
Desde os anos 90 não
comia um pastel feito na hora.
Acho que os clientes já
não podem mais esperar pelo pastéis.
Quem faz os pastéis
é uma simpática senhora. Vem trazê-los
pessoalmente até a mesa.
Está sorridente,
vejo orgulho nos seus olhos. Tem plena confiança que gostarei
dos pastéis e ela se preocupa com isso, sabe o que está
fazendo e faz com gosto, pois canta e assobia ao preparar os pastéis.
Uma bela voz. Como de
outras tantas mulheres que cantam atrás de fritadeiras e
tanques para poucos e privilegiados clientes e vizinhos. A senhora
sorri ao ver meu olhar de aprovação em relação
ao pastel, e agora já pode voltar tranquila à
cozinha.
Um senhor entra, me
cumprimenta, mesmo sem me conhecer, deixa seu chapéu e sua
bengala na mesa e pede uma cerveja e um cinzeiro. “meu deus ele vai
fumar aqui” é o que penso. Já suficientemente
oprimido e traumatizado pelos bares da minha cidade.
Ele finalmente acende o
cigarro. Sem pressa.
E traga. Sem pressa.
Porque a pressa? Essa
pressa de fumar rápido, e ficar assoprando para cima para não
incomodar é que está nos matando.
Desde os anos 90 não
via alguém fumar daquela maneira, com liberdade, sem culpa,
sem ratos mortos estampados na carteira, sem olhares hostis, sem
negatividade alguma.
NADA. Nada além
dos lábios no filtro e da fumaça lançada para
frente.
Prontamente peço
um cinzeiro.
Estou realizado.
Um comentário:
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