segunda-feira, abril 19, 2010

O Monstro I


O monstro.

Após cinco dias ele saiu de casa.
Ficara em casa porque não gostava da rua,
Porém naquele momento gostava menos ainda da casa
(se é que alguém podia chamar aquilo de casa).
Então virou a esquina de sua rua e não encontrou ninguém que conhecesse,
Não que ele quisesse ver alguém que conhecesse,
Já que nem sabia se ainda conhecia alguém
E tinha um certo receio de não conseguir interagir,
Ainda assim não tinha certeza se não sabia mais ou não queria interagir.
Como interlocutor, há tempos que era apenas um ouvinte,
Quando muito um comentarista, nunca um narrador.
Seu magnetismo era o de um imã.
De um imã ao contrário de um imã.
Inspirava lento e expirava violento.
Seu desprezo pelo mundo tinha completa reciprocidade do mundo para com ele
E era mais ou menos isso que ele pensava, enquanto esperava o esverdear do semáforo.
Foi nesse momento que ele fitou um casal feliz passeando com seu cachorro, um belo casal ideal. Mais adiante viu uma bela criança dentro de um belo carro ao lado de um pai ideal, que fechava o vidro do carro as pressas, pois não queria as balas de goma do menino de rua que estava vendendo no semáforo. Um menino da mesma idade do seu filho, mas sem um pai ideal e numa nação injusta. Para o pai ideal, que estava ao volante, ele não era um menino ideal, ao menos não o bastante para ser ouvido. Percebeu claramente a metamorfose que se da com as balas de goma no sinal vermelho que viram balas de revólver no sinal vermelho. Junto com o menino que quer ser ouvido no sinal vermelho. Que vira um adulto que não ouve ninguém, e se faz ser ouvido a força no sinal vermelho.
Após essa rápida cena cotidiana, ele respirou fundo e sentiu uma vontade imediata de voltar para casa. Uma incontrolável fobia social.
Todavia passou na padaria para comprar um cigarro e uma cerveja, ele precisava disso mesmo que beber e fumar há tempos não fosse nenhum prazer. Era um vício, e um vício não é um prazer mas se você não o sacia ele te leva ao desespero, é um impulso de morte necessário.
Comprou um cigarro... não o seu cigarro pois este estava em falta.
Comprou uma cerveja... não era a sua cerveja e sim uma mais barata,
Já que cigarro que teve que comprar era mais caro.
Sendo assim pelo mesmo valor que ele gastaria para comprar o que queria,
Ele comprou o que não queria.
Ele estava apressado, pois o dono da padaria, um português desses com bigode grande, estava feliz com alguma coisa e não parava de falar e ele não queria ouvir.
Como um interlocutor, naquele momento, ele não era sequer um ouvinte. Pegou suas coisas e saiu correndo.
Ele corria de tudo. Corria da vida, corria da morte, tinha medo da morte, tinha tédio da vida. E se existe uma maneira de anular ambas, era o que ele vinha fazendo, magistralmente.
*****
Então ele acordou e viu que tudo fora um sonho e já era o sexto dia que estava em casa. Então, num momento inédito, ele teve um pensamento positivo. Chegou à conclusão que o seu sonho teve alguma utilidade por ter lhe dado motivos suficientes para continuar em casa.
Foi aí que, ainda deitado, olhou para o seu lado e viu no chão uma carteira de cigarro. O seu cigarro.
Caminhou lentamente até a sua geladeira, colocou sua mão na porta e a olhou como quem olha para uma bela mulher com um olhar de esperança, ao abri-la teve uma grande surpresa, lá estava a sua cerveja que suava de tão gelada com uma volúpia indescritível própria das cervejas. Abriu um meio sorriso silencioso expirando pelo nariz.
Era mesmo melhor ficar em casa.

Autor: Kaue Catalfamo
Composta em: 2008/09

3 comentários:

Unknown disse...

PQP, muito foda kauê!!!

Unknown disse...

agora tu sabe pq eu fico em casa!!!!
uaHSUHAushauhsuaHSUAHSUAhsuahSUHAushaushaUH

Kaue Catalfamo disse...

Você é o monstro cara...
hahahahahhahahha