segunda-feira, abril 26, 2010

O Monstro II

Ele está cansado
Não gosta do seu trabalho
Não gosta de trabalhar
Muito embora a concentração que seu trabalho exige, lhe poupa de tantos pensamentos angustiantes que a liberdade de pensamento proporciona a quem pensa.
A quem tem tempo para pensar.
Então ele decide ir para rua fumar um cigarro
Senta-se em um degrau e encosta numa cortina de ferro extremamente suja, devido aos anos exposta a um ambiente urbano e pútrido sem nunca ter sido lavada. Seu patrão é um relaxado. Não cuida de seus empregados tampouco do seu patrimônio, e acha que fazer os seus empregados rezarem o pai nosso depois do almoço vai criar algum espírito de solidariedade entre pessoas que se odeiam e estão no mesmo espaço apenas porque precisam do dinheiro. Além disso, acredita que com o apelo das orações vai amenizar ambiente terrivelmente pesado que ele criou atrasando os salários em mais de duas semanas.

Então, fumando, vê um senhor sentado na rua a poucos metros dele. O velho está completamente bêbado, sua aparência indica que ele vem bebendo há muitos dias, e suas ressacas o deixam cada vez mais mal humorado.
Ele começa a observar o velho que é a face da fossa, e se surpreende quando uma mulher mais nova se aproxima com sua filha a fim de carrega-lo para casa,
Ele constata que a mulher é mulher do velho e que a menina é filha do velho.
A menina dizia - “vamos pai, vamos para casa”.
Enfim, o velho levanta-se sem dizer nada
Caminha devagar com suas pernas finas e infestadas de varizes
Está doente. Provavelmente não sabe disso
A menina fala bastante com seu velho pai, uma menina de uns seis anos
O velho permanece quieto, com os olhos caídos e a boca torta
A menina fala muito, faz perguntas, ela quer ouvir o seu pai. então o velho vira-se violentamente para a menina e grita: - “Já chega!”
Então a menina se calou, a mulher se calou, e o velho continuou calado.
A família entrou em casa.
Ele assistiu toda essa cena com seu cigarro na bagana e também continuou calado, ficou triste e preocupado e pensou que parar de beber seria bom.
Depois pensou em não ter filhos.

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